Depoimento de leitura e escrita da cursista Katia Regina de
Souza Costa
A leitura estimula a reflexão, tanto é que ao ler os
depoimentos de pessoas tão diferentes umas das outras e de mim, e ouvir os
depoimentos e as colocações dos entrevistados por Gilberto Dimenstein saíram de
minha memória lembranças que estavam completamente adormecidas.
Lembro-me
que aos seis anos de idade brincava algumas vezes de escolinha. Ainda não era
alfabetizada, mas eu insistia em ser a professora, mesmo sendo mais nova que
minhas coleguinhas.
Imediatamente
vem em minha lembrança a homenagem que fiz para minha professora aos sete anos
de idade. Isso significa que fui alfabetizada nesse ínterim. Usávamos a
cartilha “Caminho Suave”, o que era muito boa, pois não me lembro de ter amigos
analfabetos, mesmo sendo naquele tempo em que estudar era de certa forma, para
uma elite. Não que a escola segregasse, mas porque não havia obrigatoriedade,
ou seja, ir à escola era para quem quisesse, para quem valorizasse os estudos.
A mamãe era uma dessas pessoas que valorizava por
isso, mesmo com a nossa vida bem difícil, ela sempre que podia comprava ou
ganhava um livro para os filhos. É impressionante, parando agora para analisar,
como ganhávamos coisas relacionadas aos estudos! Até uniforme cheguei a ganhar
depois que a “Caixa” parou de fornecê-los.
A “Caixa” também não fornecia livros, então era comum
eles serem passados dos filhos mais velhos para os mais novos. Eu era a mais
velha aqui em São Paulo, mas ganhava dos primos que eram mais velhos do que eu.
Chegava a ter livros repetidos, que repassava para quem não os tivessem.
Era natural que com tantos livros circulando em minha
casa eu tivesse acesso aos de histórias, que eu amava. Mesmo aqueles que não
tinham um final muito feliz.
O primeiro livro que li, e acho que muitos da minha
geração o leram, foi “Meu pé de laranja lima”, de José Mauro de Vasconcelos; na
mesma ocasião li “Éramos seis” e foi assim que me tornei leitora.
Não posso deixar de mencionar os cânones que líamos a
partir da 1ª série ginasial, o atual 6ª ano. Penso que até por isso os
professores de português daquela época eram tão temidos, pois a leitura de
Machado de Assis, José de Alencar, Antônio Manuel de Almeida, por exemplo, são
complicadas para essa faixa etária ainda hoje.
Não posso deixar de mencionar um caso muito especial,
que aconteceu nos meus treze anos: eu trabalhava numa empresa de marcas e
patentes, quando o vendedor de uma editora nos visitou para vender coleções. Muitos
compraram, pois o pagamento era facilitado. Eu comprei uma coleção de cinco
volumes, de Freud. O banco não emitiu os boletos porque eu era menor de idade.
Dois anos depois, quando a editora, por meio de advogado fez a cobrança, eu já
havia lido toda a coleção.
Há outras histórias a respeito de leitura e escrita.
Se precisarmos...
Abraços.
Depoimento de leitura e escrita da cursista Leila Coelho Zadra
Minha experiência com a
leitura começou antes de chegar à escola, pois minha mãe costumava ler alguns
livros para mim e meus irmãos. Família grande e com poucos recursos, mamãe lia
os mesmos livrinhos várias vezes. Por ela trabalhar muito, o momento de leitura
era muito especial para todos nós; ficávamos todos juntos e viajávamos nas
historinhas. Gosto muito de ler principalmente por prazer, porém não sigo
nenhuma regra, leio qualquer coisa, mas não gosto muito de livro de auto-ajuda.
Já a experiência com a escrita é um pouco mais complicada, pois demorei um
pouco para escrever e até hoje sempre demoro muito para elaborar um texto, mudando
de ideia muitas vezes e nunca estando satisfeita com o produto final. Ler e
escrever, na minha opinião, são atividades complementares, pois a leitura ajuda
a escrever melhor e quanto mais escrevemos, mais precisamos ler. Quando era
adolescente lí muitos romances Julia e Bianca; lia um por dia e os trocava ora
nas bancas de jornais, ora com minhas amigas. No meu tempo de colégio conheci
os romances canônicos e daí me apaixonei por literatura e por uma boa leitura.
Hoje em dia acostumada com
a internet fico hora navegando em sites e blogs relacionados à minha profissão
em busca de novidades, novos olhares e textos para meu próprio aprimoramento e
também que possam ser utilizados com meus alunos. Os textos multimodais, ou
seja, com recursos visuais, sonoros e com hiperlinks são maravilhosos e tornam
a leitura uma experiência única.
Depoimento de
leitura e escrita da cursista Luzia Ferreira
Olá, colegas, quero
compartilhar um pouco da minha experiência como a leitura e a escrita entraram
na minha vida, para começar meus pais não sabiam nem ler nem escrever, mas eram
pessoas com grandes experiências na vida e reconheciam a importância da leitura
e da escrita como crescimento humano, nos incentivavam muito a mim e aos
meus irmãos. Morávamos no interior e toda s as noites meu pai e minha mãe
sentavam-se conosco no chão e nos contavam várias histórias as quais eles
aprenderam com seus pais era e ali alguns de nós acabavam dormindo
e eles nos levavam para cama. Eles também cobravam a colaboração dos irmãos
mais velhos para ensinarem os mais novos, e acreditem no meio das brincadeiras
meus irmãos escreviam as primeiras letras do alfabeto do no chão arenoso
do interior e assim que aprendi as primeiras letras e formar as primeiras
palavras ,quando fui para a escola já estava alfabetizada e hoje sou
professora e todos os meus irmãos tem curso superior. Foi muito
importante relembrar este momento tão maravilhoso em minha vida.
Depoimento de leitura e escrita da cursista Márcia Regina Farias
Ribeiro
Ler e escrever foi a maior descoberta da minha vida.
Não sei explicar muito bem como se deu esse processo, pois fui alfabetizada
fora do ambiente escolar, durante as brincadeiras de “escolinha com amigas que
já frequentavam a escola.
Meus
pais não tinham condições financeiras de matricular-me numa pré-escola.
Acredito que há quarenta anos não existia este tipo de ensino na rede pública,
ou então os estabelecimentos ficavam muito longe da minha casa. Eu fui
apresentada ao gênero narrativo (na época eu nem sabia que tinha essa designação),
relato de memória, por meio da oralidade pela minha avó materna, Maria. Ela era
analfabeta, mas tinha um vasto conhecimento de mundo, afinal era filha de
escravos, órfã de pai e mãe, ficou aos cuidados da madrinha que a transformou
numa das empregadas da casa, casou-se cedo, mas logo ficou viúva com a
minha mãe ainda bebê, enfim, passou e superou diversas adversidades no decorrer
da vida. Hoje, as vezes fico pensando, se eu tivesse anotado todos os ricos
depoimentos em forma de histórias, poderia até escrever um livro.
Minha avó era uma pessoa simples e muito humilde assim
como as suas histórias. Eu ficava fascinada com aquelas narrativas, muitas
vezes, eu me atrevia a criar finais diferentes para elas, eu criava desfechos
felizes. Minha avó achava engraçado. Ela me dizia que eu deveria aprender a ler
e a escrever para conhecer e desbravar outros mundos e para ser alguém na vida.
Como eu era criança, não entendia o que ela queria dizer, porém agora
compreendo muito bem a dimensão da importância de saber ler e escrever com
habilidade e competência.
Quando consegui juntar as letras e descobrir o
significado daquele amontoado de letrinhas foi como tivesse descoberto uma arca
do tesouro. Eu tinha dificuldades para entender alguns significados porque eu não
tinha critério de leitura, lia o que aparecia, e o meu primeiro livro versava
sobre anatomia. Foi cômico. No entanto, não me dei por vencida, insisti. Lia
trechos de notícias em revistas e jornais usados, fotonovelas, gibis e quando
não entendia, recorria às amigas.
Aos seis anos fui aceita na escola, no meio do ano
letivo como ouvinte depois de muita persistência da minha mãe. Não havia
vagas nem mesmo para as crianças com sete anos completos. Mas eu queria entrar
na escola de qualquer jeito, fiquei doente por isso. Em meados de setembro do
mesmo ano, minha mãe foi chamada para efetivar a matricula, pois eu acompanhava
a turma, que felicidade. A cartilha “Caminho Suave” e os meus caderninhos eram
meus companheiros inseparáveis. Cuidava deles com muito zelo.
Já na segunda série do antigo
primário, ganhei da minha professora, dona Claudete, o meu primeiro
livro, era contos de fadas. Eu possuía outros, mas não foram dados a mim. Apareceram
em casa. Aquele não, ele era especial, ganhei devido a minha dedicação. Ele era
composto por três histórias, “A gata borralheira (Cinderela)”, “Chapeuzinho
Vermelho” e a “Branca de Neve”. Eu amava ler cada uma das narrativas e não
cansava de fazer as releituras, pois sempre descobria algo novo. “A gata
borralheira (Cinderela)” era a minha preferida porque muito se assemelhava à
trajetória de vida da minha avó, e tinha um final feliz.
Dona Claudete sempre nos atentava para a importância
da leitura e escrita, “Para vocês serem eficientes leitores e produtores de
textos é preciso que estejam em contato constante com os mais diversos textos
(bula de remédio, manual de instrução, fotonovela, gibis, jornais, romances,
etc). Mesmo que não gostem, leiam, pois vocês só poderão criticar com
propriedade aquilo que conhecem”.
Hoje, sou professora de Língua Portuguesa e me orgulho
muito disso. Sou leitora assídua dos mais diversos gêneros de textos e concordo
plenamente com o depoimento da Marilena Chauí quando ela diz, “(...)
Ler, acredito, é uma das experiências mais radiosas de nossa vida, pois, como
leitores, descobrimos nossos próprios pensamentos e nossa própria fala graças
ao pensamento e à fala de um outro. Ler é suspender a passagem do tempo: para o
leitor, os escritores passados se tornam presentes, os escritores presentes dialogam
com o passado e anunciam o futuro”.
Depoimento de leitura e escrita da cursista Magali Zaparoli Pineiro Cunha
“Eu
costumo falar no esplendor do livro porque ele abre para mundos novos, ideias e
sentimentos novos, descobertas sobre nós mesmos, os outros e a realidade”
Marilena
Chauí
“A
literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna
mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante.”,
Antônio Cândido
“A
experiência literária é um ritual antropofágico. Antropofagia não é
gastronomia. É magia.”
Rubens
Alves
Os tantos significados dados pelos famosos e as
experiências relatadas pelos colegas de curso me fizeram viajar no tempo de
Kairós e relembrar os primeiros momentos de contato com o mundo de esplendor,
no qual as histórias de minha avó me fizeram embarcar.
Assim como os depoimentos de Gabriel Pensador e de
Gilberto Gil, o de Márcia Farias e tantos outros lidos, eu também tive minha
avó como a responsável pela minha iniciação ao mundo das historias, que para
mim são todas fantásticas.
Lembro-me que minha querida vozinha nos estimulava
a fazermos interferências nas histórias, como fazer o vilão sofrer, criar
situações felizes para a heroína que sofria, enfim, tinha dias que alterávamos
totalmente a história. É incrível como elas se repetiam, no entanto cada
vez que ouvíamos parecia outra.
O interesse em me apropriar da leitura nasceu sem
eu mesma perceber, passava horas com o mesmo livro de fábulas, que tínhamos em
casa. Quando dei por mim já estava lendo. Entrei na escola já sabendo ler. No entanto,
a escrita foi mais complicada, porque eu até dominava o código, mas eu achava
minha letra horrorosa. Vivia experimentando letras. Quem me fez superar isso, lógico,
foi minha professora da 3ª série.
Eu penso que as experiências com a leitura e a
escrita das pessoas de minha geração são bem parecidas. Elas eram usadas,
quando se tinha necessidade. Nós éramos apresentadas para o mundo das palavras
por meio da tradição oral.