quarta-feira, 5 de junho de 2013

Depoimentos de leitura e escrita

Depoimento de leitura e escrita da cursista Katia Regina de Souza Costa

A leitura estimula a reflexão, tanto é que ao ler os depoimentos de pessoas tão diferentes umas das outras e de mim, e ouvir os depoimentos e as colocações dos entrevistados por Gilberto Dimenstein saíram de minha memória lembranças que estavam completamente adormecidas.
Lembro-me que aos seis anos de idade brincava algumas vezes de escolinha. Ainda não era alfabetizada, mas eu insistia em ser a professora, mesmo sendo mais nova que minhas coleguinhas.
Imediatamente vem em minha lembrança a homenagem que fiz para minha professora aos sete anos de idade. Isso significa que fui alfabetizada nesse ínterim. Usávamos a cartilha “Caminho Suave”, o que era muito boa, pois não me lembro de ter amigos analfabetos, mesmo sendo naquele tempo em que estudar era de certa forma, para uma elite. Não que a escola segregasse, mas porque não havia obrigatoriedade, ou seja, ir à escola era para quem quisesse, para quem valorizasse os estudos.
A mamãe era uma dessas pessoas que valorizava por isso, mesmo com a nossa vida bem difícil, ela sempre que podia comprava ou ganhava um livro para os filhos. É impressionante, parando agora para analisar, como ganhávamos coisas relacionadas aos estudos! Até uniforme cheguei a ganhar depois que a “Caixa” parou de fornecê-los.
A “Caixa” também não fornecia livros, então era comum eles serem passados dos filhos mais velhos para os mais novos. Eu era a mais velha aqui em São Paulo, mas ganhava dos primos que eram mais velhos do que eu. Chegava a ter livros repetidos, que repassava para quem não os tivessem.
Era natural que com tantos livros circulando em minha casa eu tivesse acesso aos de histórias, que eu amava. Mesmo aqueles que não tinham um final muito feliz.
O primeiro livro que li, e acho que muitos da minha geração o leram, foi “Meu pé de laranja lima”, de José Mauro de Vasconcelos; na mesma ocasião li “Éramos seis” e foi assim que me tornei leitora.
Não posso deixar de mencionar os cânones que líamos a partir da 1ª série ginasial, o atual 6ª ano. Penso que até por isso os professores de português daquela época eram tão temidos, pois a leitura de Machado de Assis, José de Alencar, Antônio Manuel de Almeida, por exemplo, são complicadas para essa faixa etária ainda hoje.  
Não posso deixar de mencionar um caso muito especial, que aconteceu nos meus treze anos: eu trabalhava numa empresa de marcas e patentes, quando o vendedor de uma editora nos visitou para vender coleções. Muitos compraram, pois o pagamento era facilitado. Eu comprei uma coleção de cinco volumes, de Freud. O banco não emitiu os boletos porque eu era menor de idade. Dois anos depois, quando a editora, por meio de advogado fez a cobrança, eu já havia lido toda a coleção.
Há outras histórias a respeito de leitura e escrita. Se precisarmos...
Abraços.

Depoimento de leitura e escrita da cursista Leila Coelho Zadra

Minha experiência com a leitura começou antes de chegar à escola, pois minha mãe costumava ler alguns livros para mim e meus irmãos. Família grande e com poucos recursos, mamãe lia os mesmos livrinhos várias vezes. Por ela trabalhar muito, o momento de leitura era muito especial para todos nós; ficávamos todos juntos e viajávamos nas historinhas. Gosto muito de ler principalmente por prazer, porém não sigo nenhuma regra, leio qualquer coisa, mas não gosto muito de livro de auto-ajuda. Já a experiência com a escrita é um pouco mais complicada, pois demorei um pouco para escrever e até hoje sempre demoro muito para elaborar um texto, mudando de ideia muitas vezes e nunca estando satisfeita com o produto final. Ler e escrever, na minha opinião, são atividades complementares, pois a leitura ajuda a escrever melhor e quanto mais escrevemos, mais precisamos ler. Quando era adolescente lí muitos romances Julia e Bianca; lia um por dia e os trocava ora nas bancas de jornais, ora com minhas amigas. No meu tempo de colégio conheci os romances canônicos e daí me apaixonei por literatura e por uma boa leitura.
Hoje em dia acostumada com a internet fico hora navegando em sites e blogs relacionados à minha profissão em busca de novidades, novos olhares e textos para meu próprio aprimoramento e também que possam ser utilizados com meus alunos. Os textos multimodais, ou seja, com recursos visuais, sonoros e com hiperlinks são maravilhosos e tornam a leitura uma experiência única.

Depoimento de leitura e escrita da cursista Luzia Ferreira

              Olá, colegas, quero compartilhar um pouco da minha experiência como a leitura e a escrita entraram na minha vida, para começar meus pais não sabiam nem ler nem escrever, mas eram pessoas com grandes experiências na vida e reconheciam a importância da leitura e da escrita como crescimento humano, nos  incentivavam muito a mim e aos meus irmãos. Morávamos no interior e toda s as noites meu pai e minha mãe sentavam-se conosco no chão e nos contavam várias histórias as quais eles aprenderam com seus pais  era e  ali alguns de nós acabavam dormindo e eles nos levavam para cama. Eles também cobravam a colaboração dos irmãos mais velhos para ensinarem os mais novos, e acreditem no meio das brincadeiras meus irmãos escreviam as primeiras letras do alfabeto do no chão  arenoso do interior e assim que aprendi as primeiras letras e formar as primeiras palavras ,quando fui para a escola já estava alfabetizada e  hoje sou professora e  todos os meus irmãos tem curso superior. Foi muito importante relembrar este momento tão maravilhoso em  minha vida.



Depoimento de leitura e escrita da cursista Márcia Regina Farias Ribeiro

Ler e escrever foi a maior descoberta da minha vida. Não sei explicar muito bem como se deu esse processo, pois fui alfabetizada fora do ambiente escolar, durante as brincadeiras de “escolinha com amigas que já frequentavam a escola.
Meus pais não tinham condições financeiras de matricular-me numa pré-escola. Acredito que há quarenta anos não existia este tipo de ensino na rede pública, ou então os estabelecimentos ficavam  muito longe da minha casa. Eu fui apresentada ao gênero narrativo (na época eu nem sabia que tinha essa designação), relato de memória, por meio da oralidade pela minha avó materna, Maria. Ela era analfabeta, mas tinha um vasto conhecimento de mundo, afinal era filha de escravos, órfã de pai e mãe, ficou aos cuidados da madrinha que a transformou numa das  empregadas da casa, casou-se cedo, mas logo ficou viúva com a minha mãe ainda bebê, enfim, passou e superou diversas adversidades no decorrer da vida. Hoje, as vezes fico pensando, se eu tivesse anotado todos os ricos depoimentos em forma de histórias, poderia até escrever um livro.
Minha avó era uma pessoa simples e muito humilde assim como as suas histórias. Eu ficava fascinada com aquelas narrativas, muitas vezes, eu me atrevia a criar finais diferentes para elas, eu criava desfechos felizes. Minha avó achava engraçado. Ela me dizia que eu deveria aprender a ler e a escrever para conhecer e desbravar outros mundos e para ser alguém na vida.  Como eu era criança, não entendia o que ela queria dizer, porém agora compreendo muito bem a dimensão da importância de saber ler e escrever com habilidade e competência.
Quando consegui juntar as letras e descobrir o significado daquele amontoado de letrinhas foi como tivesse descoberto uma arca do tesouro. Eu tinha dificuldades para entender alguns significados porque eu não tinha critério de leitura, lia o que aparecia, e o meu primeiro livro versava sobre anatomia. Foi cômico. No entanto, não me dei por vencida, insisti. Lia trechos de notícias em revistas e jornais usados, fotonovelas, gibis e quando não entendia, recorria às amigas.
Aos seis anos fui aceita na escola, no meio do ano letivo como ouvinte depois de muita persistência da minha mãe.  Não havia vagas nem mesmo para as crianças com sete anos completos. Mas eu queria entrar na escola de qualquer jeito, fiquei doente por isso. Em meados de setembro do mesmo ano, minha mãe foi chamada para efetivar a matricula, pois eu acompanhava a turma, que felicidade. A cartilha “Caminho Suave” e os meus caderninhos eram meus companheiros inseparáveis. Cuidava deles com muito zelo.
            Já na segunda série do antigo primário, ganhei da minha professora, dona Claudete,  o meu primeiro livro, era contos de fadas. Eu possuía outros, mas não foram dados a mim. Apareceram em casa. Aquele não, ele era especial, ganhei devido a minha dedicação. Ele era composto por três histórias, “A gata borralheira (Cinderela)”, “Chapeuzinho Vermelho” e a “Branca de Neve”. Eu amava ler cada uma das narrativas e não cansava de fazer as releituras, pois sempre descobria algo novo.  “A gata borralheira (Cinderela)” era a minha preferida porque muito se assemelhava à trajetória de vida da minha avó, e tinha um final feliz.
Dona Claudete sempre nos atentava para a importância da leitura e escrita, “Para vocês serem eficientes leitores e produtores de textos é preciso que estejam em contato constante com os mais diversos textos (bula de remédio, manual de instrução, fotonovela, gibis, jornais, romances, etc). Mesmo que não gostem, leiam, pois vocês só poderão criticar com propriedade  aquilo que conhecem”.
Hoje, sou professora de Língua Portuguesa e me orgulho muito disso. Sou leitora assídua dos mais diversos gêneros de textos e concordo plenamente com o depoimento da Marilena Chauí quando ela diz, “(...) Ler, acredito, é uma das experiências mais radiosas de nossa vida, pois, como leitores, descobrimos nossos próprios pensamentos e nossa própria fala graças ao pensamento e à fala de um outro. Ler é suspender a passagem do tempo: para o leitor, os escritores passados se tornam presentes, os escritores presentes dialogam com o passado e anunciam o futuro”.

Depoimento de leitura e escrita da cursista Magali Zaparoli Pineiro Cunha
Eu costumo falar no esplendor do livro porque ele abre para mundos novos, ideias e sentimentos novos, descobertas sobre nós mesmos, os outros e a realidade”
                                                                                                                          Marilena Chauí

“A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante.”,
                                                                                                                          Antônio Cândido

A experiência literária é um ritual antropofágico. Antropofagia não é gastronomia. É magia.”
                                                                                                                              Rubens Alves

Os tantos significados dados pelos famosos e as experiências relatadas pelos colegas de curso me fizeram viajar no tempo de Kairós e relembrar os primeiros momentos de contato com o mundo de esplendor, no qual as histórias de minha avó me fizeram embarcar.
Assim como os depoimentos de Gabriel Pensador e de Gilberto Gil, o de Márcia Farias e tantos outros lidos, eu também tive minha avó como a responsável pela minha iniciação ao mundo das historias, que para mim são todas fantásticas.
Lembro-me que minha querida vozinha nos estimulava a fazermos interferências nas histórias, como fazer o vilão sofrer, criar situações felizes para a heroína que sofria, enfim, tinha dias que alterávamos totalmente a história.  É incrível como elas se repetiam, no entanto cada vez que ouvíamos parecia outra.
O interesse em me apropriar da leitura nasceu sem eu mesma perceber, passava horas com o mesmo livro de fábulas, que tínhamos em casa. Quando dei por mim já estava lendo. Entrei na escola já sabendo ler. No entanto, a escrita foi mais complicada, porque eu até dominava o código, mas eu achava minha letra horrorosa. Vivia experimentando letras. Quem me fez superar isso, lógico, foi minha professora da 3ª série.

Eu penso que as experiências com a leitura e a escrita das pessoas de minha geração são bem parecidas. Elas eram usadas, quando se tinha necessidade. Nós éramos apresentadas para o mundo das palavras por meio da tradição oral.


2 comentários:

  1. Depois que publiquei meu depoimento, me ocorreu algo interessante, lembrei-me da época em que me arriscava nas primeiras palavras escritas. Tinha por volta dos oito anos, quando eu e uma amiga arrumamos, cada uma, um caderno. Então, fizemos a relação das casas da nossa rua e saímos batendo de porta em porta fazendo uma espécie de pesquisa quanto ao número de moradores, nomes, idade, profissão, etc. Lembro-me que muitos riam com a nossa brincadeira e, até hoje eles se recordam disso.
    Na 4ª série do primário, eu fiz um caderninho com várias perguntas (nome, idade, signo, artista, música, novela preferidos, etc.) para serem respondidas pelos meus amigos. Depois me aventurei a escrever um romance tomando como base a novela "Escrava Isaura" - 1ª versão. Não ficou muito bom, mas foi interessante. Pena não ter guardado aqueles rascunhos.
    Gosto muito de escrever, na verdade, sinto-me mais a vontade com a minha caneta e os meus papéis do que com a linguagem oral. Neles, sinto que posso expressar toda a minha emoção. Márcia Regina Farias Ribeiro

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  2. O curso "MELHOR ENSINO MELHOR GESTÃO" promovido pela SEE-SP, causou-me uma certa apreensão no início, mas com o decorrer das atividades e encontros presenciais, pude verificar que apesar de trabalhoso ele ´muito enriquecedor.
    Márcia Regina Farias Ribeiro

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